Como resultado de pesquisas de campos, sob orientação da professora Emanuelle Chaves, na disciplina de Políticas Públicas e Práticas Sociais, na Especialização em Educação e Proteção Social, com a temática “Preconceitos contra as pessoas com deficiência: As relações que travamos com o mundo”, este diário visa descrever as atividades bem como as impressões do grupo frente às observações realizadas em 3 lugares distintos, mas interligados entre si: Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, Associação dos Cadeirantes do Município de Teresina – ASCAMT e o local onde acontece o treino de basket dos para-atletas da cidade de Teresina (SESC – Ilhotas).
Dessa forma, este diário foi construído não somente por palavras com seu sentido denotativo, mas sim, por sentimentos que impregnam o significado destas palavras e preenchem as entrelinhas desta escrita.
O primeiro sentimento que veio a impregnar essas pesquisas – a inquietação- surgiu na medida em que tentávamos localizar a ASCAMT bem como local onde ocorriam os treinos dos para-atletas. Informações essas que ora eram equivocadas ora apareciam como errôneas. Motivo este que levou a concretização dessa pesquisa bem próximo ao dia da apresentação.
Em contrapartida, essa expectativa em “descobrir” esses locais, gerou no grupo uma expectativa sobre os achados. Foi então que bastantes entusiasmadas com a certeza dos lugares que o grupo se deslocou para a pesquisa de campo.
O primeiro local a ser observado foi o SESC, clube este que sede a quadra poli-esportiva, bem como a academia e a piscina para os para-atletas treinarem basket e se prepararem fisicamente para suas atividades esportivas.
Ao chegarmos ao local supracitado, no dia 04/11/09 às 08:00h encontramos a quadra sendo lavada e nenhum para-atleta se encontrava presente, o que de imediato nos veio a idéia de que não seria realizado o treino, entretanto o funcionário da limpeza nos informou que o treino aconteceria a partir das 09:00 h. Nos dirigimos então a área de lazer que o clube possui, passado alguns instantes percebemos que próximo a nós chegava um cadeirante e que possivelmente se tratava de um para-atleta. Resolvemos então nos aproximar e travar um diálogo como o cadeirante.
Foi então, que respondendo às nossas expectativas se tratava de um para-atleta que estava ali também esperando a quadra terminar de ser lavada. De maneira solícita o nosso entrevistado se dispôs a conversar conosco, o que culminou numa prazerosa conversa. Por diversas vezes fomos sensibilizadas com a fala de Renato (cadeirante entrevistado) que de imediato nos causou uma reflexão do que vem a ser a deficiência. Para ele, “a deficiência é apenas a incapacidade de realizar algo [visão cientifica], como por exemplo: caminhar, correr. Entretanto, jamais pode ser vista como a incapacidade de realizar tudo [visão da sociedade], como por exemplo o estranhamento da sociedade em ver um cadeirante namorando, jogando, trabalhando. Para ele, é essa visão que gera o preconceito.
A partir dessa fala, podemos perceber que o preconceito está bem além de práticas culturais, está na falta de informações, mas não informações advindas, ou melhor, criadas por instituições que visam atender a esses deficientes, mas sim de informações vividas por esses sujeitos. Daí percebemos que a falta de diálogo entre os deficientes e as pessoas sem deficiência (se é que podemos dizer que existe pessoas sem deficiências) gera essa falta de informação e por conseguinte o preconceito.
Outra fala importante de Renato é que além do preconceito vivido diariamente por ele, um grande desafio que as pessoas com deficiência enfrentam é a falta de acessibilidade. Segundo ele, oportunizar o acesso a esses cidadãos estereotipados como incapazes já é um grande passo para que as pessoas com deficiência são possuidoras de potencias de igual valor com os outros.
Ao se reportar ao basket, Renato se mostrou bastante empolgado e orgulhoso em fazer parte de um grande time. Mas não foi somente as conquistas esportivas que Renato ganhou, o atleta também ganhou amigos, profissão e de certa forma uma utilidade.Visto que para ele é algo maravilhoso ter esse compromisso em jogar, não somente pelo profissionalismo, mas pelos vínculos que foram criados pela garra, determinação e objetivos que são a todo ano traçados em equipes. Anteriormente ele mal saia de casa, os seus amigos eram seus próprios familiares, seus colegas de curso, eram somente ali, no espaço da universidade. Mas fazer parte de um time de basket, fez com que o seu ciclo de amizade aumentasse e sua vida social se mostre intensa, pois é com seus companheiros que ele sai para beber, para namorar, conversar, comemorar aniversários e festas.
Nesse momento, alguns questionamentos se fizeram presentes nessa fala de Renato, quais sejam: Por que Renato se sente mais à vontade com seus amigos cadeirantes? Por que as pessoas sem deficências não permitem que os deficientes usufruam da mesma vida social? por que é preciso estar em equipe para que Renato se sinta mais à vontade? Todas essas questões giram em torno de uma reposta: Egoísmo. Sim, somos egoístas ao ponto de fazer com que nossos olhares enclausurem pessoas como nós (igualdade de direitos) somente porque esteticamente não são como nós, tidos eficientes. Lembramo-nos nessa discussão de uma expressão de Peter Pál Pelbart, em que ele coloca nossas vidas como “prisioneiros a céu aberto”, e é justamente isso que fazemos como as pessoas categorizadas como deficientes.
Outra conversa que foi possível realizar nessa pesquisa de campo, foi com o auxiliar técnico, Rex, que nos encheu de orgulho e mostrou como ser um grande profissional. Em sua fala singela Rex demonstrou que mais do que interesses pessoais e/ou profissionais, existia ali uma pessoa disposta a diminuir com os preconceitos que surgem sobre as pessoas com deficiências. Interesses esses que penetraram em nossas mentes e que de forma deslumbrante nos fez refletir sobre a importância de ser “útil” nessa sociedade capitalista. Sim, mostrar utilidades através de potenciais até então podados pela sociedade. E, foi com esse pensamento que o time trouxe grandes conquistas para o estado, mas principalmente para eles, pois além de vencerem os campeonatos, eles venceram suas próprias limitações.
Por fim, tivemos o grande prazer de assistir um jogo desses atletas que ao primeiro momento gerou em nós um sentimento de diferença, o jogo era diferente, pois, não nos preocuparmos somente em saber o melhor time, nem qual deles fazia mais cesta, mas também, a preocupação com suas quedas, com tamanha velocidade que esses atletas percorriam a quadra sobre suas cadeiras. Foi então, que aos poucos fomos nos acostumamos com o acontecimento, foi então que todos os sentimentos gerados sobre um jogo convencional começaram a fazer parte de nossa torcida para com esse jogo.
Diante do exposto, percebemos que tão próximas dessa realidade há uma possibilidade de vida, de superação dos limites, dos medos e estigmas. E que ser deficiente não é somente superar suas limitações, mas principalmente as superações do outro, essas sim os paralisam e os tornam incapazes de realizar algo.
O segundo local para a concretização da pesquisa de campo foi a Associação dos Cadeirantes do Município de Teresina – ASCAMT, no dia 05/11/2009, que diferentemente do acesso que tivemos em nossa visita ao SESC, essa observação se fez impregnada de dificuldades e má vontade. Dificuldade em nos comunicarmos com sua presidente, Silvana Miranda, e a má-vontade da mesma em nos receber. Tanto que a mesma só disponibilizou apenas 10 minutos para nossa conversa, mas que mesmo com isso foi possível obtermos algumas informações, tais como: que a associação foi fundada no dia 08 de outubro de 2005 e conta hoje com 60 associados e que seu objetivo é trabalhar pelos direitos dos cadeirantes de Teresina. Para ela, o resultado de suas lutas trouxe algumas conquistas significativas, como por exemplo o " transporte eficiente" ; um programa desenvolvido pela prefeitura de Teresina através de sua secretaria STRANS. Ela nos falou que sem este transporte adaptado que busca pessoas cadeirantes aonde forem solicitados; seria um "parto" para sair de casa no caso das pessoas que não dispõem de transporte particular adaptado; pois o transporte eficiente ajuda e muito na locomoção destas pessoas que necessitam do mesmo. Em Teresina já existem transportes coletivos urbanos que utilização desta adaptação mais que infelizmente ainda são pousos; diz Silvana; mais que já e um grande passo importante para os cadeirantes e os portadores de outra s deficiências no Piauí já que sabemos que alguns empresa inter-estaduais estão adaptando alguns veículos.
Silvana ainda nos falou que muitas alegrias e conquistas estão sendo realizadas hoje já existe políticas públicas mais envolvidas com a causa do portador de deficiência física ou mental principalmente no Piauí. Particulamente com este governo atual que vivencia na pratica da sua realidade pessoal a experiência de se conviver com uma pessoa com deficiência e por isto a os olhares deste governo se sensibilizou para a causa tão urgente e necessária que é nos garantida por lei.
Dessa forma, os ditos da presidente da associação nos fez perceber que mesmo com tantas desigualdades, alguns conceitos, atitudes e ações mudaram, principalmente nos ideais de caminharmos juntos para a igualdade.
A terceira visita, também realizada no dia 05/11/2009, embora que bem institucional, se fez importante para nossas observações de atendimento a pessoas com deficiência, onde se deu na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais-APAE (instituição filantrópica que atende a pessoas com deficiência intelectual), fomos atendidas pela assistente social Shenara Lopes que nos prestou valiosas informações sobre a instituição, nos informando que a APAE tem por finalidade promover medidas de âmbito municipal que visem assegurar o ajustamento e o bem estar dos usuários.
Ela nos falou que a instituição possui uma equipe multiprofissional, atendendo atualmente a 230 usuários, a APAE funciona como escola e como consultório médico funcionando nos turnos manha e tarde.
Dentre as dificuldades observadas percebemos diante do relato da profissional que a demanda é superior ao atendimento. Fato esse confirmado por um número de 105 mil pessoas com deficiência física no Piauí. Em suma, podemos perceber que a APAE entende o usuário em sua totalidade valorizando como sujeito detentor de potencialidades e buscando incluí-lo na sociedade.
Por fim, vale dizer que esse diário não somente visou descrever nossas pesquisas de campo, mas, sobretudo nossas reflexões dessa prática, causando em nós, enquanto pesquisadoras, um amadurecimento frente às pessoas que possuem limitações em fazer algo.
Que beleza de díario! Acho muito importante que Emanuelle tenha pedido a voces o uso do diário de campo como registro de suas intervenções no campo. Como é interessante ler as impressões, as desconstruções e as construções que somos capazes de fazer quando nos misturamos com os outros. Parabéns para a professora e para os alun@s da educação e proteção social. Um abraço, Shara.
ResponderExcluirMuito relevante a observação do grupo acerca do preconceito contra essas pessoas. Foram produções maravilhosas e descobertas inimagináveis, assim deixamos de lado aquela visão de que o deificiente é um limitado. Parabéns ao grupo.
ResponderExcluirCristiane
De grande contribuição e iniciativa esta página mostra um pouco da vivência da pessoa com deficiência, retratando a vida diária, as dificuldades, os avanços conquistados nesta causa (deficiência) em nosso município. Coloca, também, em destaque esta vítima da sociedade ao cercear os seus direitos, sendo que a pessoa com deficiência tão quanto a todos nós possuimos, pelo nosso estado de cidadãos, estes direitos. Parabéns...
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